Fran Alonso

Declive com evidências

A poesia é uma arma
cagada de futuro. 
Fuches tu, fuches tu,
o que a fuches cagar ao palleiro; 
fuches tu, fuches tu,, 
que aínda levas os versos no cu*.

emoticono bomba

Banda sonora ♦♦

A Poesia morreu, longa vida à Poesia.
LAWRENCE FERLINGHETTI

 

* (Foste tu, foste tu, foste tu, / quem a foi cagar ao palheiro; / foste tu, foste tu, foste tu, / que ainda levas os versos no cu).

Incógnita

Era poeta mas não sabia explicar
os seus livros.
Ninguém chegou a saber se carecia
de discurso ou considerava que a espécie
não deve recrear-se
nas miúdezas do mundano.

:-#

 

13

Motivos

Escrevo poemas por prazer.
Escrevo poemas com prazer.
Escrevo poemas por comparecer
a um dos que também
sou
eu.

Soy un escritor deleznable
pienso en la literatura
soy un pequeño burgués
las directivas
no puedo obedecer

SAÚL YURKIEVICH

 

14

Cometidos

Para que é que serve a poesia,
perguntam-me levantando
a mão no ar com decisão
entre outros adolescentes.
Fico calado durante uns instantes,
contrariado e dubitativo.
É a pergunta mais estúpida
de todas quantas me fizeram.
–Para que tu possas perguntar-mo
e eu tenha
que pensá-lo–,
respondo-lhe sentindo
esse alívio
que produz
uma mijada urgente.

A poesia…

Poeta: problemas de
enurese com os versos?
Ligue 601.666.999

15

Poeta vazio

A verdadeira poesia é
aquela que fala dos sentimentos,
disse sentindo-se auténtico.
E, com as suas palavras,
esvaziou-me
de conteúdos.

(Diagnóstico: incapacidade sensitiva permanente)

Sentimentos

 

 

16

Identidade

A poesia,
mas o que é a poesia.
Mais de uma insegura resposta
deu-se a essa pergunta.
E eu não sei, e sigo sem saber, e a isto me agarro
como a um oportuno corrimão.
W. SZYMBORSKA

?

♦♦

Poeta desempregado oferece-se para escrever versos.

17

Apetência

Não posso escrever
os versos mais sérios esta noite;
escrever, por exemplo,
a poesia anda perplexa e
cavalga o desconcerto
no traço da tua/minha mão.
Só quero escrever
de nada.
Isso é tudo.
Não posso, é certo,
mas talvez os escreva.
Embora se ponha tão grandiloqüente
a poesia e tão enorme o vacio
que a minha alma se contente
com saber que escrevo.

A P. N., claro

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