Desculpe-nos, mas este texto esta apenas disponível em Galego.
Fran Alonso
(Procedência)
Vem do poema da página 74 de Transición (Ed. Franouren, 2011)
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Declive com evidências
A poesia é uma arma
cagada de futuro.
Fuches tu, fuches tu,
o que a fuches cagar ao palleiro;
fuches tu, fuches tu,,
que aínda levas os versos no cu*.
Banda sonora ♦♦
A Poesia morreu, longa vida à Poesia.
LAWRENCE FERLINGHETTI
* (Foste tu, foste tu, foste tu, / quem a foi cagar ao palheiro; / foste tu, foste tu, foste tu, / que ainda levas os versos no cu).
Excelência
A poesia é um género
tão sublime
que não acha leitores
para tanta grandeza.
♦♦
A ironia ensina a sabotar uma frase
GONÇALO M. TAVARES
Incógnita
Era poeta mas não sabia explicar
os seus livros.
Ninguém chegou a saber se carecia
de discurso ou considerava que a não deve recrear-se
nas miúdezas do mundano.
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Motivos
Escrevo poemas por prazer.
Escrevo poemas com prazer.
Escrevo poemas por comparecer
a um dos que também
sou
eu.
Soy un escritor deleznable
pienso en la literatura
soy un pequeño burgués
las directivas
no puedo obedecerSAÚL YURKIEVICH
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Cometidos
Para que é que serve a poesia,
perguntam-me levantando
a mão no ar com decisão
entre outros adolescentes.
Fico calado durante uns instantes,
contrariado e dubitativo.
É a pergunta mais estúpida
de todas quantas me fizeram.
–Para que tu possas perguntar-mo
e eu tenha
que pensá-lo–,
respondo-lhe sentindo
esse alívio
que produz
uma mijada urgente.
A poesia…
Poeta: problemas de
enurese com os versos?
Ligue 601.666.999
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Poeta vazio
A verdadeira poesia é
aquela que fala dos ,
disse sentindo-se auténtico.
E, com as suas palavras,
esvaziou-me
de conteúdos.
(Diagnóstico: incapacidade sensitiva permanente)
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Identidade
A poesia,
mas o que é a poesia.
Mais de uma insegura resposta
deu-se a essa pergunta.
E eu não sei, e sigo sem saber, e a isto me agarro
como a um oportuno corrimão.
W. SZYMBORSKA
?
♦♦
Poeta desempregado oferece-se para escrever versos.
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Apetência
Não posso escrever
os versos mais sérios esta noite;
escrever, por exemplo,
a poesia anda perplexa e
cavalga o desconcerto
no traço da tua/minha mão.
Só quero escrever
de nada.
Isso é tudo.
Não posso, é certo,
mas talvez os escreva.
Embora se ponha tão grandiloqüente
a poesia e tão enorme o vacio
que a minha alma se contente
com saber que escrevo.